sexta-feira, 21 de outubro de 2016


O banco da praça é testemunha.

Num desses dias quentes de outubro, numa pequena metrópole do norte do Brasil, com pouco mais de dois milhões de habitantes, levantei-me cedo como de costume, abri a janela da sala, recebi no meu rosto os primeiros raios de sol, prenunciando que aquele dia seria de muito calor. Já havia tomado um cafezinho que eu mesmo fiz, o relógio que fica na parede da sala ainda não marcava sete horas, peguei um pequeno livro e segurando-o com as duas mãos iniciei uma caminhada pela rua em frente à minha casa comtemplando as árvores, o canto dos pássaros e cumprimentando as pessoas que encontrava pelo caminho. Depois de algum tempo, dobrei numa esquina, entrei em outra ruazinha que dá acesso a uma pracinha maltratada, com muitas marcas de vandalismo, mais ainda um ponto de encontro das pessoas que fazem caminhada, ou levar as crianças para brincarem, encontrei logo uma ponta de banco desocupada, sentei-me abri o pequeno livro e comecei a folhear antes de começar a leitura, enquanto observava as pessoas que se movimentavam ali nas imediações. Depois de algum tempo, resolvi olhar para a outra ponta do banco onde eu estava sentado, percebi que lá estava um senhor aparentando ter de idade entre cinquenta e sessenta anos, um boné surrado na cabeça, a camisa de listras também mostrava-se já no fim, calça marrom e bota bastante distioradas, davam o tom da aparência daquele senhor. Tinha um olhar fixo no horizonte parecendo querer enxergar além do alcance da sua visão. Iniciei a leitura e depois de virar a primeira página, voltei a olhar para a outra ponta do banco e vi que o homem estava imóvel na mesma posição, continuei, e já estava na quarta página, levantei a vista novamente na direção do homem e ele lá estava do mesmo jeito. Aproximei-me dele mais um pouco e como querendo saudá-lo disse: dia quente amigo! Ele permaneceu como estava por mais alguns segundos, depois virou-se pra mim e disse: dia quente mesmo! Baixou a cabeça olhando o bico da bota e assim ficou, voltei a leitura, mais não consegui continuar, fechei o livro e disse: está precisando de alguma coisa amigo? Ele respondeu sim! Continuei, o que? Ele, de alguém que possa me escutar. Perguntei então, posso ajudá-lo? Ele balançando a cabeça confirmou que sim, e já foi começando, “tenho comigo uma angústia muito grande, faz muitos anos que ela me atormenta, não sei bem quantos anos, acho que mais de vinte e cinco, no começo eu conseguia dominá-la, agora ela está me sufocando nos momentos de crises, sou filho de camponês, nasci no campo, meu pai lidava com os animais e era lavrador da terra, até a idade de dez anos, vivi no campo acompanhando a labuta de meu pai que nos criava e sustentava com o fruto da terra, sou o segundo filho do casal, gostava de estar perto de meu pai, beijar sua mão, sentir seu cheiro, onde ele estava eu também queria estar, meu pai era uma espécie de espelho pra mim, eu me espelhava nele, não fazia nada errado ele era meu exemplo, sou para os meus filhos o que o meu pai foi para mim. Mais uma coisa me faltou, ele não era de conversar muito comigo, era um pouco fechado, coisa da natureza dele, sentia falta dessa relação mais próxima com meu pai. Hoje sofro por não ter sido mais amigo do meu pai, por não ter sido mais próximo dele. Dito essas palavras, o homem se levantou me olhou agradecido com os olhos mergulhados em lágrimas, a voz embargada, disse obrigado” e saiu caminhando lento de retorno a sua casa. Demorei mais um pouco e também me levantei, talvez mais confortado do que aquele homem que embora o tenha escutado por mais de uma hora nem perguntei o seu nome. Prefiro chama-lo de o Homem.

Francisco Alves de Sousa

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