O banco da praça é testemunha.
Num desses dias quentes de
outubro, numa pequena metrópole do norte do Brasil, com pouco mais de dois
milhões de habitantes, levantei-me cedo como de costume, abri a janela da sala,
recebi no meu rosto os primeiros raios de sol, prenunciando que aquele dia
seria de muito calor. Já havia tomado um cafezinho que eu mesmo fiz, o relógio
que fica na parede da sala ainda não marcava sete horas, peguei um pequeno
livro e segurando-o com as duas mãos iniciei uma caminhada pela rua em frente à
minha casa comtemplando as árvores, o canto dos pássaros e cumprimentando as
pessoas que encontrava pelo caminho. Depois de algum tempo, dobrei numa
esquina, entrei em outra ruazinha que dá acesso a uma pracinha maltratada, com
muitas marcas de vandalismo, mais ainda um ponto de encontro das pessoas que
fazem caminhada, ou levar as crianças para brincarem, encontrei logo uma ponta
de banco desocupada, sentei-me abri o pequeno livro e comecei a folhear antes
de começar a leitura, enquanto observava as pessoas que se movimentavam ali nas
imediações. Depois de algum tempo, resolvi olhar para a outra ponta do banco
onde eu estava sentado, percebi que lá estava um senhor aparentando ter de
idade entre cinquenta e sessenta anos, um boné surrado na cabeça, a camisa de
listras também mostrava-se já no fim, calça marrom e bota bastante distioradas,
davam o tom da aparência daquele senhor. Tinha um olhar fixo no horizonte parecendo
querer enxergar além do alcance da sua visão. Iniciei a leitura e depois de
virar a primeira página, voltei a olhar para a outra ponta do banco e vi que o
homem estava imóvel na mesma posição, continuei, e já estava na quarta página,
levantei a vista novamente na direção do homem e ele lá estava do mesmo jeito.
Aproximei-me dele mais um pouco e como querendo saudá-lo disse: dia quente
amigo! Ele permaneceu como estava por mais alguns segundos, depois virou-se pra
mim e disse: dia quente mesmo! Baixou a cabeça olhando o bico da bota e assim
ficou, voltei a leitura, mais não consegui continuar, fechei o livro e disse:
está precisando de alguma coisa amigo? Ele respondeu sim! Continuei, o que?
Ele, de alguém que possa me escutar. Perguntei então, posso ajudá-lo? Ele
balançando a cabeça confirmou que sim, e já foi começando, “tenho comigo uma
angústia muito grande, faz muitos anos que ela me atormenta, não sei bem
quantos anos, acho que mais de vinte e cinco, no começo eu conseguia dominá-la,
agora ela está me sufocando nos momentos de crises, sou filho de camponês,
nasci no campo, meu pai lidava com os animais e era lavrador da terra, até a
idade de dez anos, vivi no campo acompanhando a labuta de meu pai que nos
criava e sustentava com o fruto da terra, sou o segundo filho do casal, gostava
de estar perto de meu pai, beijar sua mão, sentir seu cheiro, onde ele estava
eu também queria estar, meu pai era uma espécie de espelho pra mim, eu me
espelhava nele, não fazia nada errado ele era meu exemplo, sou para os meus
filhos o que o meu pai foi para mim. Mais uma coisa me faltou, ele não era de
conversar muito comigo, era um pouco fechado, coisa da natureza dele, sentia
falta dessa relação mais próxima com meu pai. Hoje sofro por não ter sido mais
amigo do meu pai, por não ter sido mais próximo dele. Dito essas palavras, o
homem se levantou me olhou agradecido com os olhos mergulhados em lágrimas, a
voz embargada, disse obrigado” e saiu caminhando lento de retorno a sua casa.
Demorei mais um pouco e também me levantei, talvez mais confortado do que aquele
homem que embora o tenha escutado por mais de uma hora nem perguntei o seu
nome. Prefiro chama-lo de o Homem.
Francisco
Alves de Sousa
Quanta história são testemunhas os bancos de praças do mundo inteiro...
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